Desencadeia-se a guerra
relâmpago
Em meio à neblina que cobre as planícies
da Pomerânia, avançam rugindo os tanques da divisão Panzer 3. À frente, marcha,
num veículo blindado, o general Guderian, teórico e mestre da blitzkrieg.
Chegou, finalmente, a hora de pôr em prática a sua revolucionária teoria da
guerra mecanizada. O chefe alemão tem sobre o seu comando o 19º corpo blindado,
integrado pela divisão Panzer 3, e as divisões motorizadas 2 e 20. A sua
missão: cercar e aniquilar todas as forças polonesas dispostas no corredor de Dantzig.
Guderian junto a um tanque Tiger I |
No mesmo instante em que os tanques de
guerra transpõem a fronteira, o general polonês Bortnowski, chefe das forças
localizadas no corredor, passeia nervosamente no seu posto de comando, na
cidade de Torun. Seguindo as diretivas do marechal Smigly-Rydz, o grosso das
suas forças estava no centro do corredor, com a ordem de lançar-se à conquista
de Dantzig ao início das hostilidades. Esta operação coordenaria todas as
divisões de Bortnowski ao aniquilamento. Em consequência, em 31 de agosto, o
general ordenou as suas melhores divisões, a 13 e a 27 de Infantaria,
retirar-se para o sul.
Em primeiro de setembro, as tropas da
divisão 13 consegue embarcar de trem e fogem para o sul, sob os contínuos
ataques dos stukas a divisão 27, entretanto, não consegue alcançar a ferrovia e
tem de empreender a pé a retirada.
Caça Junkers Ju 87 - Stuka |
Avançando a toda velocidade, Guderian
chega na noite de 1º de setembro às margens do rio Vístula. O cerco está
fechado! Para esse rio convergem, do Norte, as colunas da divisão 27. Nas
primeiras horas do dia 2, em meio à escuridão, os poloneses tratam de abrir
passagem, através da barreira de tanques. Não alcançam, entretanto, o seu
objetivo. Os blindados rompem fogo e detém o seu avanço. Estabelece-se um caos
indescritível nas fileiras polonesas as unidades, destroçados, perdem toda
coesão e convertem-se em fácil presa dos tanques alemães. Tem lugar, então, um
dos mais dramáticos episódios da campanha.
Pondo-se à frente dos seus Cavaleiros, o
general Grzont -Skotnicki, chefe da brigada “Pomerânia”, desembainha a espada e
lança-se a todo galope sobre os tanques alemães, numa desesperada tentativa de
romper o cerco. Sem titubear, os seus soldados o seguem. Levantando gigantescas
nuvens de poeira, a enorme massa de cavaleiros avança velozmente, espada e
lança na mão, para os blindados. Horrorizados, os alemães procuram repelir o
ataque heroico e terrível sacrifício conclui-se em poucos minutos. Um após o
outro, os esquadrões são esmagados pelo implacável fogo dos canhões e
metralhadoras. Alguns cavaleiros que conseguem atravessar a Mortífera barreira
quebram, impotentes, as frágeis lanças contra o aço dos tanques.
Cavalaria polaca |
Guderian
- Creia-me. Nunca veremos rodar os tanques alemães. A sua utilização não
é mais que um projeto irrealizável.
Um entrechocar de botas e duas leves inclinações precedem o aperto de
mão que selou a despedida do general Joachin Stülpnagel, chefe da 3ª divisão de
infantaria e chefe do 3º grupamento de automóveis.
Corria a primavera do ano de 1931 e ainda faltava muito caminho a
percorrer para a novíssima arma blindada. Na realidade, repetindo as palavras
do General Stülpnagel, podia considerar-se que aquilo não era mais do que um
projeto irrealizável. “Um projeto irrealizável. Não estou tão certo disso”.
Provavelmente, essa foi a conclusão que aquela conversa provocou no espírito do
jovem interlocutor de Stülpnagel. “Não estou tão certo disso”. Na realidade,
intimamente estava convencido do contrário.
De fato, estava seriamente convicto do valor das unidades blindadas,
pelas quais lutava sem descanso aquele jovem comandante, Heinz Guderian. Em 17
de junho de 1888, o primeiro Tenente Frederico Guderian, do batalhão de
caçadores da Pomerânia Nº 2, foi surpreendido pela enseada notícia: O
nascimento do seu primeiro filho. O jovem Tenente Guderian não imaginava,
então, que aquele pequenino rebento seria o homem que, muitos anos depois,
revolucionária a concepção clássica da Guerra.
Seguindo a tradição paterna, o jovem Heinz abraçou a carreira das armas.
Em 1º de abril de 1901, aos 12 anos, vestiu o uniforme da Escola de Cadetes de
Karlsruhe, da qual saiu, em fevereiro de 1907, para servir, como
aspirante-a-oficial, no batalhão de caçadores Hannoveriano Nº 10, da guarnição
em Bitsch, Lorena, cujo chefe, até maio de 1908, foi seu pai. A guerra mundial
o surpreendeu ostentando os galões de Tenente em outubro de 1914, foi promovido
a primeiro Tenente e em dezembro de 1915 a Capitão.
O período entre as duas grandes guerras mundiais não deu descanso a
Guderian e suas atividades o levaram a comandar diversas unidades fronteiriças
e a intervir para sufocar agitações nas comarcas do Ruhr, em Dessau e
Bitterfeld.
Heinz Wilhelm Guderian |
Os Panzer em marcha
Em janeiro de 1922, Guderian foi transferido para a inspeção das tropas
de circulação, sessão de automóveis. Previamente, a fim de proporcionar a
possibilidade de familiarizar-se com a sua nova arma, fora confiado o comando
da unidade de automóveis Nº 1, acantonado em Munique. Aquela experiência será
vital para ele e para o destino da futura guerra.
Livros, artigos, experiências alheias e pessoais, tudo o orientou para uma nova concepção da Guerra. Manuais ingleses e franceses foram lidos e estudados minuciosamente. A escassa experiência de combate recolhida pelos carros blindados alemães foi analisada, em detalhe. Confrontaram-se opiniões e fatos concretos. E, Como o próprio Guderian declarou uma vez, “Em terra de cegos, quem tem um olho é rei”. Frente a ignorância quase total dos chefes e oficiais alemães sobre o problema, Guderian converteu-se na autoridade máxima em matéria de tanques, em toda Alemanha. As suas aspirações, porém, iam mais longe do que as dos seus chefes imediatos. Ele queria fazer dos tanques uma arma independente, uma poderosa arma independente da infantaria e não a sua auxiliar. O tempo demonstraria o acerto das suas ideias.
Referências
bibliográficas:
Texto integral da obra: A segunda guerra
mundial, Editora Codex S.A. Copyright 1965/66.
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